Mondobizarre

por Raquel Pinheiro, Fev 2002 (Lisboa, Portugal)

Chicago é vista como uma cidade emblemática da música experiemental. Que visão tem da chamada “Chicago scene”?

É uma das cidades que melhor me acolheu e com a qual ainda mantenho laços muito fortes. Para além da sua concentração de músicos excelentes por metro quadrado, aquilo que torna Chicago tão especial será, com certeza, a qualidade do público.

Está-se a ver a editar um disco como “Insignificance”, de Jim O’Rourke, ou fazer versões dos AC/DC?

Fazer versões dos AC/DC?? Hmm, não, obrigado… embora deva admitir que fui um grande fã desse grupo, quando tinha 10 ou 11 anos. Um disco como “Insignificance”, só mesmo um Jim O’Rourke para o fazer. Mas tenho um projecto para um disco de canções – não faço é ideia se alguma vez pensarei nele a sério.

O seu nome é reconhecido e admirado por muitos músicos estrangeiros – Lee Ranaldo, Thurston Moore, Jim O’Rourke, Mike Patton, Duane Denison, etc -, e elogiado sem reservas por publicações como a Wire ou a Révue e Corrigé. Por cá a relevância do seu trabalho parece passar mais ou menos ao lado. Isso aborrece-o?

É um hábito português, ou, pelo menos, lisboeta, o encontrar conforto na mediocridade. Enquanto formos todos medíocres, está tudo bem. Agora se alguém começa a ganhar notoriedade, torna-se um problema, uma pedra no sapato. Gera-se um distúrbio na mediocridade e há que fazer tudo para que a ela se regresse. Já senti muitas vezes que alguns sucessos que eu tenha tido criaram incómodo e mal estar por aqui. Não me afecta nada, mas é triste, naturalmente. Felizmente, existem “ilhas” que funcionam noutro patamar, mais internacional e iluminado, como a Fundação de Serralves.

Acha que um dia lhe acontecerá o mesmo que a Emanuel Nunes e finalmente, verá a sua obra condignamente divulgada?

Não faço ideia nem quero pensar nisso. A música que faço é para o planeta todo, não me preocupo com essa dimensão local.

Olhando para a sua carreira, que tem sido rica em experiências, qual a relevância que dá a estas duas apresentações (Casa de Serralves, Acarte) com Lee Ranaldo?

Há já vários anos que tínhamos esta ideia de tocar ao vivo em duo, e houve várias ocasiões apontadas, que não se realizaram por uma ou outra razão. Sinto que é um passo importante, porque o Lee foi uma figura influente e importante no meu percurso, e agora (salvo a diferença dos caminhos percorridos) cheguei a um estado de maturação que permite estarmos num palco em confronto directo, de igual para igual.