Flur (Mailing Lust)

Rafael Toral transpôs a barreira entre o universo rock e a electrónica com a maior naturalidade, perseguindo apenas o seu sentido de exploração na direcção que o Cosmos o mandava seguir. Para já, «Space» é o culminar de um percurso que já celebrou a aeronáutica e ultrapassou a atmosfera para melhor poder escutar as pulsações de corpos celestes. Toral quase encena sequências de filmes de ficção científica clássicos, obviamente pontuadas por disparos laser de que nos lembramos de séries como «Flash Gordon». A livre marcha dos objectos sonoros recorda brevemente algumas experiências antigas de Jorge Lima Barreto (Anar Band, por ex), igualmente fundadas num discurso jazz entendido como ponto de partida para um grande desconhecido. A participação de Toral em ensembles de Sei Miguel é devolvida com a participação deste e de Fala Mariam em «Space». Parecendo um culminar, o álbum na verdade marca o início de um novo ciclo de esperiências para Rafael Toral, um projecto a longo prazo moldado pelos sons extraídos dos instrumentos e gadgets que o músico constrói para si. Não apenas a atenção ao espaço sideral mas a criação de um espaço de actuação próprio, uma estrutura que permita a Toral organizar o modo como apresenta os seus sons, especialmente quando o faz perante uma audiência. O artigo de fundo que lhe é dedicado no número 272 da Wire esclarece alguns pontos sobre o projecto Space Program, faz um resumo histórico das suas colaborações com Jim O’Rourke, Phil Niblock e outros músicos, celebra quase duas décadas de dedicação aos limites do som.

Flur