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05Oct2011
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A Camarilha dos Quatro
Space Elements Vol. III
Por Thiago Filardi e Ruy GardnierRafael Toral é músico experimental, compositor, guitarrista, engenheiro eletrônico, produtor e artista visual. Nascido em Lisboa, Portugal, no ano de 1967, começou a se apresentar e gravar ainda no anos 80. Seu primeiro álbum, Sound Mind Sound Body, foi lançado em 1994, mas seu trabalho só ganhou maior notoriedade em 2001, quando Violence of Discovery and Calm of Acceptance foi reeditado pelo conceituado selo Touch. Em 2004, deu início ao projeto Space Program, do qual faz parte Space Elements Vol. III, que completa a fase primeira do programa. Toral também é membro da orquestra eletrônica MIMEO e já colaborou com músicos e grupos tais quais Jim O’Rourke, John Zorn, Phil Niblock, David Toop, Sei Miguel, Alvin Lucier, Sonic Youth, Christian Marclay, Rhys Chatham e C Spencer Yeh, entre muitos outros. (TF)
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Na década de 80 discutia-se, no círculo vanguardista, a relação mimética entre timbres eletrônicos e timbres de instrumentos convencionais. Criticava-se que, na música popular da época, os produtores e instrumentistas utilizavam novos e modernos equipamentos, cujo alcance sonoro ainda era parcialmente desconhecido, para imitar os timbres da guitarra, do piano, da bateria, do saxofone, das cordas friccionadas etc. Ou seja, estes artistas utilizavam novos meios e novas tecnologias para chegar a sonoridades já assimiladas. Todavia, hoje, com visão distanciada e mais abrangente daquele momento musical, sabemos que havia inúmeras exceções e que a busca por novos timbres, ainda que inevitavelmente relacionados a instrumentos já existentes, era uma constante praticada por nomes como Prince, Wally Badarou, Alan Howarth e os ascendentes produtores de hiphop. Na seara experimental, a lista é ainda mais extensa, com exemplos notórios de Cabaret Voltaire, Einstürzende Neubauten, Frank Zappa, Manuel Göttsching e o português Nuno Canavarro, cujo álbum seminal Plux Quba, de 1988, foi remasterizado pelo próprio Rafael Toral para uma nova edição em 1998.
Em Space Elements Vol. III e em seus volumes precedentes, esse mimetismo apresenta-se de modo inverso; aqui, os instrumentos “convencionais” se limitam à bateria, percussão e a um piano Rhodes, enquanto todos os outros sons que ouvimos foram gerados por mini amplificadores, um sintetizador modular e outros componentes do aparato eletrônico de Toral. Enquanto os instrumentos percussivos e o piano – ainda que tocados de forma interessantíssima -, não se afastam muito de seus timbres e alturas mais habituais, os instrumentos eletrônicos soam quase como pistões que sofreram alguma intervenção ou foram executados com técnicas diferenciadas. Nesse sentido, Toral – que já afirmou se considerar um músico de jazz, ou algo próximo disso -, parece ir atrás de uma sonoridade jazzística virada ao avesso; radical até para um conjunto de free jazz.
Mas a questão é que, ao mesmo tempo, Toral não se considera efetivamente um músico de free improv – embora a filosofia do Space Program seja muito similar a deste último, ao pregar uma espécie de composição instantânea. E essa indefinição pode causar até certa dificuldade ao ouvinte que tenta compreender sua sonoridade, já que a mesma transita entre a música eletrônica de vanguarda e o jazz experimental. No entanto, diria que todo o interesse na obra do músico português reside exatamente na indefinição de estilo (não confundir com falta de estilo) e de timbres, que ora lembram os jazzísticos, ora remetem a algum experimento da BBC Radiophonic Workshop; pois todos os sons que compõe seus discos, desde a criação do Space Program, nos remetem a uma mesma fonte artística. É inegável também que os aspectos vagamente miméticos concernentes a timbres sejam de algum ineditismo na música. Além disso, todos os sons presentes em Space Elements Vol. III são fascinantes e, tanto a atmosfera criada por Toral, quanto sua interação com os músicos convidados, são extremamente envolventes. Alegrar-se-á quem visitar seu site e observar que ainda há três volumes da Space Elements a serem lançados, além de outros projetos relacionados ao Space Program. (Thiago Filardi)
Ouça aqui uma faixa do álbum.
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Não é de hoje que se incorporam instrumentos eletrônicos ao jazz. Na verdade, se acompanharmos as escalações dos festivais Company realizados por Derek Bailey, notaremos que já nos anos 80 alguns experimentadores/improvisadores já começavam uma trajetória com esses novos “instrumentos”, fossem eles samples, synths, baterias eletrônicas utilizadas de forma não convencional etc. Mas com a série Space Elements de Rafael Toral a coisa soa diferente de alguma forma. Não é uma musicalidade radicalmente diferente do que já se ouviu, mas pela sutileza das intervenções e pela preciosidade na escolha de timbres, seus sons interagem de forma fascinante com os diversos instrumentos e instrumentistas que fazem parte de seus discos. No volume III (e aparentemente final) dos Space Elements, ele interage com bateria, percussão discreta, guitarra steel e piano Rhodes, sempre extraindo sonoridades inusitadas e intrigantes de seus apetrechos, e fazendo-os conviver com propriedade e eloquência entre os “colegas” acústicos, de timbres e ressonâncias mais identificáveis. Criando ambiências, Toral não é especial. Mas quando vira solista de seus eletrônicos, ele encontra sua própria voz, dando perfeita vazão a uma personalidade distinta e a uma utilização incomum do eletrônico dentro da música improvisada. A ouvir atentamente, como aliás todos da série Space Program que com esse álbum se encerra. (Ruy Gardnier)
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